O basquete feminino brasileiro, apesar da lentidão, tem avançado em diversos aspectos técnicos e estruturais, mas há um ponto crucial que ainda exige evolução: a experiência do torcedor dentro e fora da quadra. O esporte não se resume a pontos e estaơsƟcas; ele é emoção, idenƟdade, espetáculo. As grandes ligas esportivas ao redor do mundo entenderam há décadas que o jogo em si é apenas uma peça dentro de uma engrenagem muito maior. O sucesso das Ligas Americanas, como a NBA, NFL, MLB e WNBA, não está apenas no nível de suas competições, mas na forma como transformam cada parƟda em um evento inesquecível, um verdadeiro ritual de pertencimento para seus torcedores.
Na NBA, o intervalo não é um momento de distração para o público, mas sim uma extensão da experiência. Shows de entretenimento, mascotes carismáƟcos, ativações de marcas, distribuição de brindes e interações com torcedores fazem parte de um modelo que mantém os ginásios lotados e os fãs envolvidos. A NFL e a MLB seguem essa lógica, tornando cada jogo um espetáculo que atrai não apenas os fanáticos pelo esporte, mas também aqueles que buscam uma experiência memorável, onde o jogo é o fio condutor de um evento maior, vibrante e interativo.
Aqui no Brasil, ainda estamos aquém dessa realidade. O reconhecimento da nossa equipe, Sodiê Mesquita, precisa ultrapassar os limites das quadras. A presença nas redes sociais, as brincadeiras nos intervalos, as interações com o público e uma atmosfera vibrante nos jogos são tão fundamentais quanto a performance esportiva. O torcedor precisa sentir que ir a um jogo da Liga de Basquete Feminino é um programa imperdível. Mas, para isso, é preciso mais do que bons jogos: é preciso oferecer um espetáculo digno do nosso povo, da nossa garra e da nossa cultura.
Nossa realidade na cidade de Mesquita, na Baixada Fluminense, apresenta desafios únicos. Somos uma equipe nascida e criada na periferia do Rio de Janeiro, em um lugar onde o esporte ainda luta para ser visto como um entretenimento familiar acessível e valorizado. Ao contrário de outras capitais e regiões onde a cultura do basquete já está enraizada, precisamos não apenas formar um time forte, mas também ensinar nossa comunidade que o basquete pode ser um evento de lazer, um encontro, um momento de união e celebração.
A população da Baixada Fluminense carrega um espírito de luta, de resistência e de paixão. Mas também enfrenta desafios diários que impactam diretamente sua relação com o lazer e o esporte. Com um poder aquisitivo limitado, muitos dos nossos torcedores nunca tiveram a oportunidade de assistir a um grande evento esportivo ao vivo. Para essas famílias, um jogo de basquete pode ser muito mais do que uma
partida: pode ser uma janela para novas experiências, um momento de alegria e inspiração. Cabe a nós, enquanto gestores, quebrar essas barreiras e tornar o basquete um espetáculo acessível, emocionante e memorável.
E é nesse cenário que brilha uma estrela única: nosso mascote, Locão James. Bicampeão do prêmio de Melhor Mascote do Brasil, ele transcende a figura tradicional de um mascote esportivo. Ele não apenas diverte os torcedores, ele os representa. Locão James é a essência do entretenimento no esporte, um personagem que conecta gerações, que traz sorrisos, que transforma um simples intervalo em um
espetáculo de alegria e engajamento. Nas redes sociais e dentro do ginásio, ele é um símbolo do que queremos construir: um basquete vibrante, próximo do povo, que vai além das estaơsƟcas e das tabelas de classificação.
Esta não é uma crítica que ignora os desafios técnicos e táticos do basquete feminino brasileiro. Pelo contrário. Melhorar a qualidade do jogo e aprimorar a experiência do público não são objetivos conflitantes; são caminhos que devem caminhar lado a lado. Precisamos de gestores que entendam que o espetáculo dentro das quatro linhas precisa de um suporte equivalente fora delas. O público quer emoção, engajamento e pertencimento, e isso só se constrói com uma abordagem moderna e inovadora.
A Baixada Fluminense é um celeiro de talento, de força, de história. Nossa torcida merece mais do que um jogo: merece uma experiência. O futuro do basquete feminino depende não apenas do que acontece na quadra, mas da maneira como transformamos cada parƟda em um verdadeiro show. O desafio está lançado. E nós estamos prontos para fazer do basquete um espetáculo que ecoa além das quatro linhas,
além do ginásio, além dos placares. Porque o basquete não é só um esporte. O basquete é paixão. É cultura. É entretenimento. E é para todos.
Colunista:
Prof. Esp. Guilherme Simões
Formado em Educação Física
Pós-graduado em Desporto de Campo e Quadra, com ênfase no Basquetebol
Gestor da LSB desde 2007